1. |
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Alô, mulher
Sou eu, passageiro do vento
No mesmo assento
Viajando no meu vai e vem
Pois é, sou eu
Que agora te ama à distância
Por força das circunstâncias
E pra não me arriscar a sofrer
Pois é, bem sei
Não tenho nenhum argumento
Que no momento
Te possa fazer entender
Que já não sou
Aquele que esteve a teu lado
Velando teu sono cansado
de sonhar por mim
Mulher
Posso até parecer indeciso
Mas é preciso
Despertar as manhãs do amanhã
Não chore
Que chorar por amor hoje em dia
Pode até parecer covardia
Aos olhos de quem nunca amou
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2. |
Canto Para Não Chorar
03:25
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As luzes da cidade
O ronco do automóvel
A pressa de viver
A incompreensão
A gente caminhando pelos descaminhos
Com tanto desamor e tanta solidão
Abraço minha nega e minha Viola
É faço um samba triste sem explicação
Só cantar
Eu canto para não chorar
Eu olho pro meu filho
E fico matutando
Por quê botei no mundo
Sem lhe perguntar
Eu chego na janela
E sinto um arrepio
No dia de amanhã a vida o que será
Acendo meu cigarro e olho pra fumaça
Existe tanta coisa que nem sei falar
Só cantar
Eu canto para não chorar
Eu saio procurando uma palavra amiga
Encontro mais perguntas do que solução
Entendo que a tristeza é uma coisa antiga
Que sou mais um sozinho nessa multidão
E solto o pensamento como um passarinho
Atrás de uma alegria, de uma inspiração
Só cantar
Eu canto para não chorar
Às vezes me convenço que não vale nada
Ter dentro da cabeça tanta confusão
Procuro um modo novo de viver a vida
Eu páro de sonhar e ponho os pés no chão
Mas no fim de semana eu esqueço tudo
Com samba , futebol, cerveja e violão
Só cantar
Eu canto para não chorar
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3. |
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O índio amigo
perdeu terras, perdeu mar
Perdeu sua inocência
e seus rios de pescar
O negro alegre
do seu lar se separou
perdeu sua liberdade
Na senzala então cantou
O branco trouxe
sua fé, sua ambição
tudo que ele acreditava
fosse a civilização
Muita coisa se perdeu
Muito grito o mar levou
Mas o sangue não se esquece
Muita dor se misturou
Curimã, curiê
Tudo em volta ainda sangra
De três raças tristes
Foi que nasceu meu samba
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4. |
Lei do Retorno
03:22
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Dizem que quem faz o mal
Aqui mesmo paga
É lei universal
Guarda teu orgulho
Porque afinal isso um dia acaba
Você ri na minha cara
Sopra teu cigarro muito debochada
E depois me põe de lado
Como se separa a fruta estragada
Olha que essa vida gira
Volta e meia a roda vira
E muita gente tomba
Quando você nem atenta
O seu mundo se arrebenta
E nem fica a sombra
Lembra aquela velha história
Havia uma cigarra e uma formiga
E quem cantava glória e fazia farra
Acabou mendiga
Pensa na lei do retorno
O teu verão tão morno
Vai virar inverno
Teu coração de gelo
Quem vai derrete-lo
É o teu próprio inferno
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5. |
Sexto Andar
04:06
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Da janela do edifício
Com a certeza dos anúncios
De bons cremes dentífricos
Como um código e um prenúncio
Teu sorriso ri pra mim
Sob a luz que acende e apaga
Nesse riso a gás neon
Há um apelo que eu presumo
Seja a chave do consumo
de tanto beijo e Baton
Lanço uma ponte do meu sexto andar
Teu riso vem
Pé ante pé
E o povo vem
Aplaudir o prodígio que é
Teu sorriso ser meu
Mas da travessia em meio
Com teu riso te diluis
E te espalhas pelos ares
No mais lindo dos luares
No mais azul dos azuis
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6. |
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Coco dendê, coco sinhá
Esse coco tá duro
Tá bom de ralar
Vovó me ensinava
histórias e cantigas da escravidão
Rezava padre nosso e ave Maria
Falava de castigos e assombração
Segurava o terço
Com lágrima nos olhos e com devoção
Dizia meu menino, essa vida é dura
Precisa ter firmeza no teu coração
Coco dendê, coco sinhá
Esse coco tá duro
Tá bom de ralar
Quando o pai voltava
A gente já esperava
Junto do portão
Chegava tão cansado
Que já nem sorria
Tirava em silêncio o velho macacão
E num de repente
Chamava para um canto
Eu e meu irmão
Estuda meu menino
Que essa vida é dura
Mostrava quantos calos tinha em sua mão
Coco dendê coco sinhá
Esse coco tá duro
Tá bom de ralar
Mamãe não falava
Calada como sempre
Junto do fogão
Sorria de mansinho
Quando a gente vinha
Pedindo tanta coisa
Tanta explicação
Ela só dizia
Criança não tem nada
Que entender do mal
Pegava no pão duro
Pra fazer farinha
Mandava todo mundo
Brincar no quintal
Coco dendê coco sinhá
Esse coco tá duro
Tá bom de ralar
Quando a gente cresce
E pensa nesses dias
Que tão longe vão
Aprende que das coisas duras dessa vida
O que machuca mais é a desilusão
O pior de tudo
Pior do que a lembrança de dormir no chão
É ver tantos sorrisos escondendo pedras
Sentir tantas mentiras apertando a mão
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7. |
O Tempo
03:53
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O tempo não é, minha amiga
Aquilo que você pensou
As festas, as fotos antigas
Às coisas que você guardou
Os trastes, os móveis, as tranças
Os vinhos, os velhos cristais
As doces canções de criança
Lembranças, lembranças demais
O tempo não pára no Porto
Não apita na curva
Não espera ninguém
Você vem deitar no meu ombro
Querendo de novo ficar
Eu olho e até me assombro
Como pode esse tempo passar
O tempo é areia que escapa
Até entre os dedos do amor
Depois é o vazio, é o nada
É areia que o vento levou
O tempo não pára no porto
Não apita na curva
Não espera ninguém
O medo correndo nas veias
Deixou tanta vida pra trás
E a gente ficou de mãos cheias
Com coisas que não valem mais
E fica um gosto de usado
Daquilo que não se provou
A gente dormiu acordado
E o tempo depressa passou
O tempo não pára no porto
Não apita na curva
Não espera ninguém
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8. |
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Quando a solidão me bate à porta
Nessas horas mortas
Nessas noites de verão
Nos ruídos surdos da cidade
Sinto som de flauta, cavaquinho e violão
É então que chega uma saudade
De um tempo que em verdade
Nem siquer vivi
Tempo de antenores de voz rouca
Pondo a alma pela boca
Dando o couro por um tamborim
Põe fogo no couro desse samba
Que a lua já descamba
Pra dar passagem ao metrô
Toca o bonde, somos condutores
De pastoras e pastores
Eu, você e o Claudionor
Samba choro, samba pau e corda
Nos bordões da velha guarda
Rolam rosas, rolam rimas pelo chão
Eu me vou nas brumas da saudade
Encontrar minha verdade
Pelo braço de um amigo violão
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9. |
Tributo A Cassius Clay
04:05
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One, two, Three
A contagem progressiva
Four, Five, Six
No piano soa um velho blues
Seven. Eight, Nine
É mais um soco na vida
Ten
No punho um som
No peito um sonho
É mais um negro que se põe
A caminhar
Por uma estrada de agressão
Que já não sei onde vai dar
Nem se vai dar
Não sei se chega ao Alabama, não
Joannesburgo ou Salvador
Quando uma estrada é de agressão
Resta seguir a indicação
É mão fechada, negra mão
No canto encanto da contagem progressiva
Que se opõe ao que se vê
Um, dois, três, quatro, dez segundos
Para o mundo ver que eu sou tão você
Aperta a minha luva mão irmão
Ergo teu braço para o ar
Quando a contagem é progressiva
Tira a luva, vive a vida
Não esquece teu valor
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10. |
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Yayá cadê cadê cadê yayá
Yayá cadê cadê cadê yayá
Na boca do samba e da noite
Ela apareceu e sorriu
Depois foi descendo a ladeira
É mexendo as cadeiras, sumiu
Yayá cadê cadê cadê yayá
Yayá cadê cadê cadê yayá
Na barra do mar e da saia
Sambou e desapareceu
Deixando no ar seu perfume
Deixando um ciúme tão meu
Yayá cadê cadê cadê yayá
Yayá cadê cadê cadê yayá
Na palma das mãos
E nas palmas dos velhos coqueiros de lá
Na linha da vida é do vento
Um só pensamento, yayá
Yayá cadê cadê cadê yayá
Yayá cadê cadê cadê yayá
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